quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Dire Straits


1 – A banda de rock britânica Dire Straits foi formada em 1977, por Mark Knopfler (1949/), seu irmão David Knopfler (1952/), John Illsley (1949/) e Pick Withers (1948/). O primeiro disco da banda foi Dire Straits (1978), com as músicas Down to the Waterline (nossa Música 1) e Sultans of Swing, entre outras.


2 – A princípio, o sucesso do Dire Straits (“desesperança”, em inglês) se restringiu ao Reino Unido, mas o hit Sultans of Swing (nossa Música 2) logo fez com que ficassem conhecidos em toda a Europa e nos Estados Unidos. Mark disse que fez essa música quando entrou num pub, numa noite chuvosa. A banda tocava para um grupo de bêbados, que nem dava atenção à apresentação. Quando terminaram, o vocalista disse: “Boa noite e obrigado! Somos os “sultões do swing”! É o que nos mostra a letra dessa música...


3 – Em 1979, a banda lançou seu segundo disco, intitulado Communiqué. Nele, gravaram as músicas Lady Writer e Portobello Belle, nossa Música 3. A letra fala de uma mulher, chamada Belladona, que “não é nenhuma rosa inglesa”...


4 – Em 1980, a banda lançou seu terceiro disco, intitulado Making Movies. Nele, os sucessos Tunnel of Love e Romeo and Juliet (nossa Música 4), entre outras. David Knopfler saiu da banda, durante as gravações do álbum, e foi Mark quem terminou a parte dele. A música mostra um Romeu que foi abandonado por sua Julieta, que foi atrás da fama...Depois, Mark substituiu David por Sid McGinnis (1949/), que não recebeu os créditos.


5 - O próximo disco da banda foi gravado em 1982, e chama-se Love Over Gold. Nele, encontramos as músicas Telegraph Road e Private Investigations (nossa Música 5), entre outras. Apesar de simples (apenas cinco músicas) e pouco conhecido, esse foi o primeiro produzido pelo próprio Mark. Logo após a gravação, o baterista Pick Withers deixou a banda, e foi substituído por Terry Williams (1948/).


6 – Em 1983, a banda gravou um EP (Extended Play – um CD longo demais para ser chamado de single e curto demais para ser chamado de disco), com a música Twisting By The Pool (nossa Música 6). É uma música muito animada, bem ao estilo do início dos Anos 80.


7 – Depois do álbum de 1982, a banda ficou três anos sem gravar discos, com a exceção do EP de 1983. Somente em 1985 é que lançou seu quinto álbum, intitulado Brothers In Arms, com as músicas So Far Away (nossa Música 7), Money For Nothing (nossa Música 8), Why Worry (nossa Música 9), Ride Across The River e Brothers In Arms (nossa Música 10).


8 – Money For Nothing (nossa Música 8) foi escrita quando Mark Knopfler foi a uma loja de eletrodomésticos. Com a parceria de Sting, do The Police, Mark escreveu uma música bem contemporânea, que inclusive citava a MTV, que ainda estava no início. Por isso, a música ganhou o Grammy de Melhor Performance de Rock.

9 – Why Worry (nossa Música 9) também fez sucesso, e aqui no Brasil, fez parte da trilha sonora da novela A Viagem (1994), só que cantada por Art Garfunkel, da dupla Simon & Garfunkel. Coincidentemente, o último disco da banda Dire Straits foi gravado em 1991, quase na mesma época da novela. Chama-se On Every Streets, e tem músicas como Calling Elvis e On Every Streets, entre outras.


10 – Mas, em 1985, a banda ainda fazia enorme sucesso. Prova disso foi o enorme sucesso da música Brothers In Arms (nossa Música 10). A música tem solos de guitarra muito bem feitos, o visual do clipe remete a soldados na Primeira Guerra Mundial, e ganhou o Grammy de Melhor Clipe, em 1987. Essa música já foi regravada por Joan Baez e Metallica, entre outros. Em 1995, a banda chegou ao fim, e Mark já gravou 15 álbuns solo, depois desse ano...







sábado, 24 de fevereiro de 2018

JANEIRO DE 1968

O ano de 1968 começou numa Segunda-feira. Houve um “cessar fogo” de 36 horas na Guerra do Vietnã (1955 a 1975), com 64 violações registradas.
Na primeira semana do ano, ainda no dia 4 de Janeiro, o cantor Jimi Hendrix (1942/1970) foi preso e teve que pagar multa, em Gotemburgo, na Suécia, após vandalizar o quarto onde estava hospedado, no Hotel Opalen. Ele estava com sua banda, Jimi Hendrix Experience, divulgando seu segundo disco, Axis: Bold As Love, que acabara de ser lançado.
Em 5 de Janeiro, Alexander Dubček (1921/1992) tornou-se Primeiro Secretário do Partiido Comunista da Tchecoslováquia. Esse veio a ser o primeiro capítulo da Primavera de Praga.
No domingo, 7 de janeiro de 1968, um grupo de cerca de 500 pessoas reuniu-se em frente aos estúdios da NBC em Burbank, Los Angeles, paraa pedir uma terceira temporada da série Star Trek. Essa série tivera duas temporadas, e acabou tendo mais uma, totalizando 79 episódios, vistos entre 1966 e 1969, e tornando-se uma espécie de “cult” entre os amantes de ficção científica.
Em Janeiro de 1968 foi lançada a música (Sittin 'On) The Dock of the Bay, do cantor Otis Redding (1941/1967), que havia morrido menos de um mês antes, num desastre aéreo.
No dia 15 de Janeiro, teve início uma revolta na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, por causa da língua falada na região (a maioria da população fala flamengo, e decidiu-se implantar o francês). A revolta espalhou-se pela cidade, por outras universidades e cidades do país, e culminando com a demissão do governo belga, em 7 de Fevereiro. Essa seria somente a primeira das revoltas estudantis de 1968. A Universidade acabou se dividindo em duas, uma para cada língua.
Em 16 de Janeiro, 31 guerrilheiros saíram da Coreia do Norte, em direção à Coreia do Sul. O objetivo deles era atacar a Casa Azul, residência do Presidente da Coreia do Sul, Park Chung-hee (1917/1979).
No Sábado, 20 de Janeiro, aconteceu o casamento da atriz Sharon Tate (1943/1970) com o Diretor de Cinema Roman Polanski (1933/). No ano seguinte, ela seria assassinada pela quadrilha de Charles Manson (1934/2017).
Em 30 de Janeiro, os norte-vietnamitas lançaram a Ofensiva Tet, que consistiu num ataque às forças norte-americanas. Ela recebeu esse nome porque esse era o Tét Nguyen Dan, primeiro dia do ano, no calendário vietnamita, e feriado mais importante do país. Essa ofensiva teve três fases, entre Janeiro e Setembro de 1968, e provocou a morte de milhares de pessoas, entre militares e civis, de ambos os lados.
Ainda em Janeiro de 1968, o cantor e compositor Raul Seixas (1945/1989) lançou o disco Raulzito e Os Panteras, dando início à sua carreira.









sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

EUROPA ANO 1000

Na passagem do primeiro para o segundo milênio da era cristã, o Ocidente vivia mergulhado em guerras, terrores e superstições: o fim do mundo estava próximo.
superinteressante, agosto de 1990
Era um tempo de medo. Há mil anos, na mesma Europa que agora se prepara para ingressar, próspera e unida como nunca, no terceiro milênio do calendário cristão, os homens viviam o pior dos mundos. O irreversível desmoronamento, século após século, do que ainda restava da civilização greco-romana, depois do fim do Império Romano do Ocidente, no século V, transformara o território europeu em campo de batalha onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente — visigodos e vikings, bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e eslavos,um sem-fim de povos que não por acaso entraram para a História sob a denominação coletiva de “bárbaros”. Além da violência, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca do ano 1000.
A centralização política abençoada pela Igreja na virada do século IX, com a coroação de Carlos Magno, rei dos francos e dos lombardos, no trono do Sacro Império Romano, em 800, produziu um lampejo de renascimento cultural ao redor de sua corte em Aix-la-Chapelle (ou Aachen, na atual Alemanha). O que pudesse haver de paz e progresso, porém, não sobreviveria muito tempo ao imperador, falecido em 814. Fragmentada em reinos cada vez mais fracos, apesar da tentativa de restauração imperial, em 962, comandada pelo rei germânico Otto, o Grande, a Europa Ocidental se converte numa colcha de retalhos de governos locais. Papas e imperadores, uns e outros invocando direitos divinos, competiam pelo poder, celebrando alianças movediças com príncipes, duques, condes, bispos que também acumulavam títulos de nobreza e ainda uma vasta gama de barões da terra. Tudo isso só fez apressar a pulverização do continente em feudos.
Os proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades autônomas, territórios com fortificações feitas de árvores e espinheiros e com habitações cercadas de paliçadas. Registrou um observador do ano 888: “Cada qual quer se fazer rei a partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e da administração, centro do comércio e do conhecimento, à maneira de Roma, Atenas ou Alexandria na Antigüidade clássica, virtualmente inexistia na paisagem ocidental desse período. Havia, é bem verdade, burgos descendentes dos centros fundados pelos conquistadores romanos, como também ajuntamentos de um punhado de milhares de almas, nascidos da presença, nas proximidades, de um mosteiro ou de um vale fértil, ou do fato de se situarem no centro de uma região dominada por um príncipe. Nada, porém, que se comparasse a Constantinopla (hoje Istambul), capital do Império Romano do Oriente, com suas centenas de milhares de habitantes, abastado comércio e porto movimentado.
Há cerca de mil anos, amplas extensões do continente europeu eram constituídas de florestas um mundo sombrio, estranho e ameaçador aos homens que construíam povoados, cultivavam cereais e criavam gado em grandes clareiras nas suas cercanias, numa economia de pura subsistência, da mão para a boca. A construção de castelos, abadias e mosteiros ocupava igualmente muitos braços. Mas o principal motor da atividade econômica era a guerra: a necessidade de produzir armas, acumular provisões para a tropa e pagar os mercenários em metal sonante estimulava o comércio. Perigos reais, como os animais selvagens, e terrores imaginários, como monstros e demônios, espreitavam os aldeões que adentravam a mata em busca de carne de caça e de mel, a única fonte de açúcar dos europeus de então. Vista pelos olhos de hoje, a vida cotidiana tinha tons de pesadelo.
As aldeias, com suas poucas dezenas de casas mambembes, eram de um primitivismo de dar dó—nada que pudesse lembrar nem as edificações do passado pré-cristão no Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma, nem as construções contemporâneas de povos tão diferentes entre si como árabes, chineses e incas. As habitações eram muito pequenas, de madeira, com coberturas de palha que chegavam rente ao chão. Janelas, quando havia, eram simples buracos. Móveis eram escassos. Animais compartilhavam o parco espaço com a família. Algumas casas eram precariamente cercadas por muros de adobe; outras, por grossas sebes de espinhos. Os germanos chamavam tais espinheiros zaun, o que daria em inglês, significativamente, thorn (espinho) e town (cidade).
Se um europeu atual caísse do céu num dia qualquer numa dessas aldeias talvez presenciasse uma cena que o deixaria escandalizado, com razão, mas cujo sentido lhe escaparia. Um homem, semidespido, corre em círculos; dois outros, tochas nas mãos, tentam queimar-lhe o traseiro, enquanto o populacho morre de rir. A grosseira palhaçada é séria: o homem está sendo castigado pelo roubo de um cachorro. O ladrão até que poderia ter se livrado do vexame se tivesse 5 soldos ou moedas de cobre para indenizar o dono do cão, mais 2 soldos de multa para o Conselho que fazia as vezes de governo do lugarejo — tão rústicos haviam se tornado a administração da justiça e o sistema de governo. A punição, em todo caso, dá idéia do valor dos cachorros em tais sociedades como auxiliares de caça freqüentemente dizimados nas incursões à floresta. Outros animais, como cervos, cavalos e falcões, eram também valorizados, com castigos à altura para os ladrões. Entre os burgúndios, povo germânico que vivia no que viria ser a Áustria, a um falcão recapturado era servido 1,5 quilo de carne crua—sobre o peito do ladrão.
O treinamento do homem medieval como caçador e guerreiro começava depois da barbatoria, o rito de iniciação que consistia na raspagem da primeira barba do jovem, por volta dos 14 anos. A partir de então, o rapaz deveria exercitar-se em corrida, natação, montaria (com o cavalo em movimento e sem estribo, que só apareceria em meados do século XI) e no manejo do arco, do machado e da espada. O homem passava da infância à condição adulta em pouco tempo porque pouco também era o tempo de vida. Morria-se geralmente por volta dos 30 anos, a mulher ainda mais cedo, quase sempre de parto. Os historiadores calculam que de cada 100 crianças nascidas vivas 45 morriam na infância. Diante disso, era preciso que houvesse muitas mulheres e muitas crianças para assegurar a sobrevivência das comunidades.
Por isso, conquistada uma aldeia, as mulheres e crianças pequenas eram levadas pelos vencedores como despojos de guerra. O resto da população, ou mais especificamente “todos aqueles capazes de mijar contra a muralha”, segundo uma expressão da época, eram passados pelo fio da espada. Pelo mesmo motivo, entre os francos, quem batesse numa mulher grávida era condenado a pagar 700 soldos de multa; se matasse uma jovem solteira, portanto em idade fértil, pagaria 600 soldos. Mas, se matasse uma mulher idosa, só desembolsaria duzentas moedas. Morria-se com facilidade nas florestas, nos vilarejos e nos caminhos entre eles. Naturalmente, procurava-se viajar apenas de dia, calibrando o percurso de modo a se estar ao alcance de um mosteiro ao cair da noite. A hospitalidade, ao menos a dos religiosos, era algo sagrado na época. Os mosteiros costumavam ter dependências especiais para abrigar os viajantes, aos quais era praxe fornecer pão e vinho — uma frugalidade para os padrões alimentares vigentes. De fato, quem podia, como os monges, fartava-se de comer. A gula, aparentemente, não figurava entre os pecados capitais e a sabedoria convencional dizia que, quanto mais farta, gorda e pesada fosse uma refeição, mais saudável seria a pessoa e mais filhos poria no mundo.
Uma dieta diária à base de muito pão, sopa, lentilhas, queijo, e ainda vinho ou cerveja à farta, totalizava algo como 6 000 calorias, mais que o dobro do que se considera hoje necessário, em média, a um trabalhador braçal. Nos banquetes, que podiam durar até três dias, a comilança incluía também ovos, aves e carnes de caça.
A vida de todos os dias, para a mente medieval, estava tão impregnada de eventos extraordinários que não havia como separar realidade e fantasia. O europeu de mil anos atrás acreditava piamente em milagres e apocalipses. Como a Terra imaginada imóvel no centro do Universo, a Igreja era o único ponto fixo de referência para os homens da época—uma instituição segura num mundo onde o poder político não cessa de mudar de mãos ao sabor dos golpes de espada entre os senhores da terra e os príncipes leigos e clericais em seus eternos conflitos. No século X, uma das preocupações da Igreja tinha a ver com a persistência dos resquícios de paganismo nos cultos praticados pelas populações que de há muito professavam a fé cristã. A luta contra a herança pagã se dava, por exemplo, em relação à morte. A atitude das pessoas diante da morte era ambígua. Naquela sociedade tão brutal, em que a morte violenta fazia parte do cotidiano, os mortos eram especialmente temidos. Os cemitérios ficavam afastados das povoações e os túmulos cobertos de arbustos espinhosos para impedir que os cadáveres viessem atormentar os vivos. Além disso acreditava-se que os mortos precisavam ser apaziguados de tempos em tempos, o que se fazia mediante grandes banquetes funerários, nos quais as famílias dos falecidos os obsequiavam com comidas, cantos e danças — um costume que, pelo visto, não parece ter conhecido fronteiras ao longo da história humana. Condenando severamente esses rituais, os padres trataram de ocupar-se eles próprios da questão. Em conseqüência, cemitérios passaram a existir dentro das aldeias, ao redor das igrejas. Sepultados em campo-santo, os mortos ficariam em paz, não havendo mais razão para a angústia dos vivos nem para práticas reprováveis. E, realmente, o culto pagão dos mortos foi rareando até desaparecer de vez.
A Igreja concentrava toda a cultura erudita. O alto clero falava latim, língua em que também eram redigidos os raros documentos da época— textos que serviam para estabelecer direitos, como cartas de transferência de propriedades e notificações de decisões reais—, pois o uso da escrita, já muito restrito, desapareceu quase por completo depois de 860. Nos mosteiros, os monges copistas reproduziam minuciosamente os livros sagrados e as obras dos filósofos gregos, como Aristóteles, cujo pensamento era considerado compatível com a doutrina oficial do cristianismo. Um monge gastava um ano de trabalho para fazer uma cópia da Bíblia. Duro favor. “Embaralha a vista, causa corcunda, encurva o peito e o ventre, dá dor nos rins”, deixou registrado um copista. “É uma rude provação para todo o corpo.”
Dos mosteiros se propagava também, pela voz dos abades nos sermões que acompanhavam as missas, uma terrível profecia que submeteria os fiéis a outro tipo de provação: o fim do mundo exatamente no ano 1000, com a ocorrência, em sucessão, de incomparáveis acontecimentos, como a aparição do Anticristo, a volta de Jesus à Terra e o Juízo Final—o julgamento de todos os homens por Deus. A crença no fim do mundo no ano 1000 derivava de uma interpretação literal de um dos mais obscuros textos bíblicos, o Apocalipse de São João. De fato, ali se lê que “depois de se consumirem mil anos, Satanás será solto da prisão, saindo para seduzir as nações dos quatro cantos da Terra e reuní-las para a luta (…). Mas desceu um fogo do céu e as devorou (…) e os mortos foram julgados segundo as suas obras (…). Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existe”. Esse “milenarismo crasso”, como dizem os comentaristas do Novo Testamento, apropriou-se dos corações e mentes dos europeus.
Quanto mais se espalhava a profecia e mais próximo se estava da data fatal, mais apareciam indícios infalíveis do fim dos tempos —um eclipse, um incêndio inexplicável, o nascimento de um bebê monstruoso, uma praga agrícola, a passagem de um cometa no céu, o relato da aparição de uma baleia do tamanho de uma ilha na costa francesa, a grande epidemia de 997. Uma crônica de um certo Sigeberto de Gembloux descreve um “terrível tremor de terra” e a imagem de uma serpente vista através de uma fratura no céu. Muita gente doou todas as suas posses, muitos também se inflingiram cruéis castigos, a título de penitência. Os historiadores interpretam o “terror milenar” que se apossou dos europeus como uma expressão do caos político que se seguiu à desagregação do Sacro Império, desenhada com tintas fornecidas pelas Escrituras. Em 954, um Pequeno tratado do Anti- Cristo, de autoria de Adson, abade de Montier-en-Der, França, previa o fim do mundo depois de “todos os reinos estarem separados do Império Romano, ao qual haviam estado anteriormente submetidos”.
O mundo, como se sabe, não acabou na passagem do milênio, nem no ano seguinte, nem no outro. Aos poucos, os homens começaram a suspeitar que o Apocalipse, afinal, não viria. Assim, em 1033, justamente no milésimo aniversário da Paixão de Cristo, um texto permitia-se festejar a “alegria dominante no Universo” — apesar da fome que devastava a Europa, do mau agouro representado por um eclipse solar e do desassossego causado pela revolta contra o papa Benedito IX, que ascendera ao trono com a extraordinária idade de 13 anos.
À espera do apocalipse: o continente na virada do milênio
Por volta do ano 1000, o Império Russo cobria a maior parte dos territórios europeus do leste, tendo o seu centro no principado de Kiev, na Ucrânia. População, língua e costumes eram eslavos. A dinastia tinha origem viking. A unidade do império era precária: Novgorod e Kiev eram governadas por diferentes membros da dinastia. Mesmo assim, amedrontava os povos balcânicos e servia de pára-choque entre os impérios e tribos do Oriente e os da Europa.
Entre a Rússia e a Alemanha, estavam, de um lado, os povos do Báltico, relativamente independentes das influências germânicas e cristãs; de outro, os reinos da Polônia, Hungria e Boêmia. Seus habitantes eram eslavos ou aparentados a eles no idioma e nos costumes, embora já começassem a se ocidentalizar.
Na Europa Ocidental, as populações da Alemanha, Itália, França e das llhas Britânicas eram cristãs, ou, como no caso dos vikings da Escandinávia, prestes a se converter ao cristianismo. O Império Bizantino se estendia, a oeste, até o sul da Itália. Mas o Reino da Sicília, assim como a Península Ibérica (menos o norte), fazia parte da Europa muçulmana.


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Os Borgias

Os nobres espanhóis Jofré Llançol i Escrivà e Isabel de Borja e Cavanilles tiveram cinco filhos: Rodrigo, Pedro, Joana, Tecla e Beatriu. O mais famosos deles foi Rodrigo de Borja y Borja, nascido em 1431.
Rodrigo Borja (ou Bórgia, FIG. 1) nasceu em Xátiva, perto de Valência, no Reino de Aragão. Seu pai morreu em 1437, quando ele tinha 6 anos. Em 1455, seu tio materno Alfons de Borja foi escolhido como Papa Callixtus III (FIG. 2), e isso influenciou Rodrigo a usar o nome Borja (da mãe) ao invés de Llançol (do pai). Ele tinha 24 anos.



Ele estudou em Bolonha, e formou-se em Direito, sendo nomeado diácono, após a eleição do tio. Em seguida, foi elevado a sacerdote, bispo e cardeal. Seu tio morreu em 1458, e ele serviu aos seus sucessores, Pio II (1458 a 1464), Paulo II (1464 a 1471), Sixto IV (1471 a 1484) e Inocêncio VIII (1484 a 1492).
Segundo consta, Rodrigo era inteligente, eloquente e muito estrategista, a ponto de comprar a sua eleição, em 1492, para tornar-se o Papa Alexandre VI. Nessa época, ele já era amante de Vannozza dei Cattanei (nascida em 1442, FIG. 3) e tinha alguns filhos com ela: Cesare (nascido em 1475), Giovanni (nascido em 1476), Lucrezia (nascida em 1480) e Gioffre (nascido em 1481).


Assim, quando ele foi eleito Papa, já tinha filhos com 17, 16, 12 e 11 anos. Cesare, aos 17 anos, foi nomeado arcebispo de Valência, cargo ocupado pelo próprio Rodrigo. Giovanni, por sua vez, foi nomeado Duque de Gandia.
Em 1493, Alexandre VI escreveu a Bula Inter Coetera, que definia a posse das terras descobertas por Colombo, em 1492. Como sabe-se, esse documento não foi aprovado por Portugal, e somente em 1494, com o Tratado de Tordesilhas, Portugal e Espanha chegaram a um acordo sobre as terras (FIG. 4)

Alexandre VI morreu em 1503. Seu filho Giovanni (FIG. 5) morreu antes que ele, assassinado em 1497, aos 21 anos. Era casado com Maria Enriquez de Luna, com quem teve três filhos: os gêmeos Juan e Francisca, e Isabel. Juan foi pai de São Francisco Borgia e as meninas seguiram vida religiosa.


Cesare (ou César, FIG. 6) foi educado para a Igreja, tendo se tornado arcebispo de Valência e cardeal, aos 18 anos. Mas, o que ele queria era ser soldado, como Giovanni. Há suspeitas do envolvimento de Cesare na morte de Giovanni. A questão é que ele foi o primeiro cardeal a renunciar ao cargo, em 1498, logo após a morte do irmão. No mesmo dia, o Rei Luís XII o nomeou Duque de Valentinois. No ano seguinte, casou-se com Charlotte de Albret, irmã do Rei João III de Navarra. Eles tiveram uma filha, Louise Borgia.


Cesare foi um grande estrategista, e seus maiores rivais foram Catarina e Ludovico Sforza. Aliás, o primeiro marido de Lucrezia Borgia (FIG. 7), irmã de Cesare e Giovanni, foi Giovanni Sforza, 14 anos mais velho que ela. Quando eles se divorciaram, ele a acusou de ter relações com o pai e com os irmãos. Mas teve que assinar um documento afirmando ser impotente, para poder anular o casamento.


Lucrezia Borgia tinha 13 anos quando se casou com Giovanni Sforza, e separou-se com 17. Segundo consta, ela teve um filho com um empregado de nome Perotto, enquanto requeria a anulação do casamento. A criança teria sido batizada como Giovanni e viveu até os 50 anos.
Em 1498, ela se casou com Alfonso de Aragão, que era um ano mais novo que ela e meio irmão de Sancha de Aragão, esposa de seu irmão Gioffre. Eles tiveram um filho, Rodrigo de Aragão. Mas Alfonso foi assassinado em 1500 (provavelmente por Cesare) e seu filho morreu em 1512.
Após a morte de Alfonso, Lucrezia casou-se, pela terceira vez, com Alfonso d'Este, Duque de Ferrara. O casamento durou 17 anos, e gerou oito filhos: uma filha natimorta, Alessandro (morreu no primeiro ano de vida), Ercole (próximo Duque de Ferrara), Ippolito (Arcebispo de Milão e Cardeal), Alessandro (morreu aos dois anos), Leonora (virou freira), Francesco (Marquês de Massalombarda) e Isabella (morreu no mesmo dia que nasceu).
Lucrezia Borgia morreu em 1519, 16 anos depois do pai e 12 depois do irmão. Teve fama de incestuosa, adúltera e envenadora de maridos. Seu filho Ercole (FIG. 8) deu continuidade ao Ducado de Ferrara, que durou até o Século XIX. Ippolito (FIG. 9) ficou famosos pela Villa d'Este, em Tivoli.



O último filho de Alexandre VI, Gioffre (FIG. 10), casou-se com Sancha de Aragão, que era amante de seus irmãos, Giovanni e Cesare (acredita-se que a morte de Giovanni tenha a ver com isso). Ele tinha 12 e ela tinha 16 anos, quando se casaram. Ele era fraco, sem visão política, e dominado pela esposa. Mas, quando ela morreu, em 1506, ele se casou novamente, com Maria de Mila de Aragão, com quem teve quatro filhos: Francesco, Lucrezia, Antonia e Maria. Eles governaram a cidade de Squillace, até 1735.